Começando pelo Final
Feliz
Em 2004, 2005 publiquei uma série de crônicas falando
um pouco do histórico do romance policial no blog da editora KBRdigital, que
então começou a publicar as investigações do detetive Alyrio Cobra. Agora
publico-as mais uma vez no blog do detetive Alyrio Cobra.
Quando aprendi a ler, minha
primeira leitura foi Reinações de Narizinho de Monteiro Lobato, livro que tenho
até hoje. Na seqüência, devo ter lido livros infantís, mas o real prazer da
leitura veio com os livros protagonizados por Dr. Watson e Sherlock Holmes. Era
delicioso me deixar levar pelo encantamento de Dr. Watson diante da fantástica
capacidade de pensar de Sherlock Holmes, além de poder conhecer detalhes
interessantes da Londres da rainha Vitória. O tempo foi passando e eu me
tornando uma “addicted” da literatura policial, dos enigmas bem montados.
Verdadeiras equações matemáticas!
Como em todos os gêneros,
no policial também há livros ótimos, maus, bons e regulares. Há também os que a
gente gosta ou não, independente do que diz a crítica. É preciso ir lendo e
formando uma biblioteca dos que valem uma releitura. Nas “crises de
abstinência”, é importantíssimo ter algo de boa qualidade bem à mão.
A literatura policial não
trabalha com grandes questões filosóficas, mas com a vida no seu dia a dia, e a
morte como parte da vida. A característica marcante dos detetives é a
capacidade de observação de minúcias despercebidas aos olhos das pessoas
comuns. É através dessas pequenas pistas perdidas no cotidiano que o detetive
chega ao criminoso e aponta o culpado, fazendo com que o bem vença o mal. Ou
seja, que o livro tenha um final feliz. Da mesma forma que nos romances de amor
o mocinho tem de acabar casando com a mocinha, no romance policial o leitor
precisa saber quem matou. E, de alguma forma, perceber que houve uma punição.
Coisa que não acontece na vida real, especialmente na nossa política. Na ficção,
o leitor de romances policiais exige um final feliz!
Quando criei o detetive Alyrio
Cobra, busquei a origem desse gênero literário. Se pensarmos em crime, podemos
afirmar que é um dos enredos usados desde sempre tanto na vida real como na
literatura. No Gênesis e nas tragédias gregas encontramos muitos crimes.
Segundo a Bíblia, a vida na terra, fora do Paraíso, começa com Caim matando
Abel! Ou seja, com um crime! No caso, não foi necessário um detetive. Deus tudo
via, não precisou de nenhuma artimanha para apontar o assassino.
Desde o registro deste
primeiro crime, foram necessários muitos séculos de História e Civilização para
se criar o primeiro detetive. E o primeiro homem genial, capaz de detectar as
marcas deixadas por um criminoso foi o detetive Auguste Dupin, criação de Edgar
Allan Poe. Na árvore genealógica da literatura policial, Allan Poe é o tronco
principal, o grande precursor. Quando publicou “Os Crimes da Rua Morgue”, e em
seguida “O Mistério de Marie Roger” e “A Carta Roubada”, teve início uma das
mais fantásticas fórmulas literárias de todos os tempos (crime, investigação e
solução), que vem se repetindo até nossos dias com estrondoso sucesso.
O detetive é uma máquina de
pensar, que a partir de vestígios, pistas e indícios, consegue, através de uma
dedução lógica rigorosa, reconstruir toda a história da criatura que praticou o
crime. Para engendrar essa figura, Allan Poe teve de incorporar muito bem o
espírito da época em que viveu.
Vamos
dar uma olhada por lá! Em meados do século XVIII, quando o detetive Auguste
Dupin estava sendo elaborado, a revolução industrial, com seus motores movidos a
vapor e suas locomotivas, trazia mudanças bastante significativas ao mundo
civilizado. Uma delas foi o surgimento das grandes cidades. Também foi uma
época em que os ricos ficaram mais ricos; e nas cidades se juntavam os pobres
que ficavam mais pobres. Surgia a miséria. Na literatura, o gênero era o gótico
que se alimentava do cenário arquitetônico das cidades, especialmente os becos
sujos povoados de pessoas miseráveis vivendo de restos de lixo. O gótico
alimentava-se também do sobrenatural nos monastérios e igrejas, com sua arquitetura
fantástica que incitava aparições. Era nessa atmosfera que se ambientavam
histórias de horror, de crimes misteriosos, onde muitas vezes intervinham
forças misteriosas. Foi a partir desses cenários que se criaram a novela de
terror, a de ficção científica e o policial.
Com o
surgimento das grandes cidades e da consequente concentração de população,
apareceu a ideia de anonimato, situação muito propícia ao crime. O criminoso,
que já não era um elemento conhecido em sua comunidade, mas um anônimo. Acreditava
poder cometer o delito e facilmente se perder na multidão. Por outro lado, o
aparecimento desse homem que praticava delitos, fez com que a polícia começasse
a se organizar de forma sistemática.
O
romance policial com seu detetive precisou de mais alguns truques. Por estar
escrevendo uma crônica, não vou me alongar. Se você ficou curioso, leia na
próxima crônica a continuação.
Vera Carvalho Assumpção
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