REVISADO E REPAGINADO


Desde sua fundação a cidade de São Paulo é intrigante. De um simples pouso de tropas no século XVIII, tornou-se a maior cidade da América Latina. Em sua bandeira está a frase: “Non ducor, duco”, que significa: “Não sou conduzido, conduzo.” São Paulo não só conduz o progresso como é a cidade que não pode parar. Alguns dizem que ela é o motor do Brasil. Outros a chamam de Paulicéia Desvairada. Caetano cantou a deselegância discreta de suas meninas. Adoniran Barbosa, , compondo o samba paulista, cantou o Trem das Onze, Saudosa Maloca e tantos outros.

São Paulo é a cidade multicultural do Brasil. As pessoas têm o sonho de conhecer São Paulo pelos seus shoppings, suas lojas, seus teatros, cinemas, suas atrações culturais, suas empresas gerando muita grana e seus restaurantes! São Paulo é uma cidade Gourmet! Nela há restaurantes de todas as nacionalidades, de todas as categorias, de todos os preços.

Em meio a tudo isto, São Paulo é uma cidade com um trânsito infernal e um alto índice de criminalidade.

Nela vive Alyrio Cobra, detetive quarentão que adora a cidade de São Paulo e tem como característica principal ser impessoal como a cidade. Bebe de tudo, come de tudo. Não é um modelo de herói. É um cara que sobreviveu a decepções. Ao se divorciar, teve de deixar a profissão de advogado e as circunstâncias o levaram às investigações.

Diante de antagonistas poderosos, Alyrio jamais fracassa, chegando sempre ao culpado. O que considero o final feliz das histórias policiais que tanto atraem público.

Por ser um apaixonado pela cidade de São Paulo, quando está envolvido em casos complicados, gosta de caminhar pelo centro velho e, quando as pistas se embaralham em sua cabeça, ele sobe ao terraço do edifício Banespa. Olhando lá de cima o caos e a imensidão da metrópole, organiza melhor os pensamentos e foca em pistas mais acertadas.

Ele vive no último sobrado que ainda não virou comércio ou empreendimento imobiliário na rua Frei Caneca, região da Paulista, e tem o escritório da Rua 7 de Abril, centro velho da cidade. Seu vizinho de escritório é George, um gourmet que, aproveitando um dos pontos altos da cidade de São Paulo que é a gastronomia, o introduz nas boas refeições. Tem também um auxiliar motoboy, personagem da cidade. São Paulo tem a maior frota de motoboys do continente e Jéferson representa bem a classe.

PAISAGENS NOTURNAS foi publicado pela primeira vez em 2003. Desde então passou por algumas editoras e agora sai repaginado e muito bem revisado pela Estremoz Editora.

Em PAISAGENS NOTURNAS, Alyrio Cobra é contratado por um rico executivo, cuja irmã foi assassinada próximo à escola da periferia em que lecionava.  Os assassinos, dois alunos da escola, confessam o crime. O corpo já foi enterrado. Existem assassinos confessos e um bom motivo - a professora os perseguia e impedia a atividade de venda de drogas nas salas de aula. O livro é a história dessa professora assassinada e é também a história de uma série de quadros que retratam paisagens escurecidas pela noite e assombradas pela lua. O que uma coisa tem a ver com a outra é a ponta do fio de uma meada que o detetive Alyrio Cobra tenta decifrar. Até chegar à outra ponta, ele vai ter de enveredar por um mundo em que nada (nem ninguém) é exatamente o que parece ser e vai ter de correr contra o tempo para impedir que a mola propulsora que desencadeia os assassinatos seja estancada. No meio disso tudo vai encontrar fatos que remetem aos nevoeiros descritos pelos poetas românticos europeus do século dezenove, reproduzidos pelos estudantes da então recém fundada escola de direito de São Paulo e retratados nos dias de hoje por uma pintora de nome Domitila.

Muito bem revisado e repaginado, PAISAGENS NOTURNAS está em pré venda na Estremoz Editora. Reserve seu exemplar. Você vai conhecer um detetive genuinamente paulistano que muitas vezes faz da cidade um personagem interessantíssimo.

https://www.estremozeditora.com/fp-paisagens-nocturnas-br

COM MUITO ORGULHO, NOSSAS AVENTURAS COMEÇAM A CHEGAR EM PORTUGAL



Há quem diga que Vera Carvalho, minha autora,  será a nova Agatha Christie. Estou muito contente que ela assinou contrato com a Estremoz Editora e vamos publicar o livro Paisagens Noturnas em Portugal e no Brasil. Para mais informações visite: www.estremozeditora.com

MEDIANDO A MESA


Na próxima sexta feira 13, terá início um evento cultural importante e inédito no Brasil. É o Porto Alegre Noir. Por todo o mundo há diversos festivais dedicados à literatura policial. Eu já participei da BAN, Buenos Aires Negra, um dos mais importantes festivais sobre literatura policial de língua espanhola. No Brasil, é a primeira vez que alguém tem esta iniciativa. Este alguém é o escritor, tradutor e editor César Alcázar. Ele teve a ideia, colocou em prática e foi recebendo adesões. O evento reunirá escritores, professores, jornalistas, cineastas e amantes do tema. Antes mesmo de começar, já se pode afirmar que será um sucesso.


No domingo, dia 15, vou mediar a mesa “Detetives da Ficção, Ontem e Hoje”. Gosto muito do histórico da literatura policial. Por ser uma literatura de gênero, é comumente classificada como literatura menor, literatura de entretenimento. Acredito que existe literatura boa, ruim, mediana em todos os gêneros, inclusive na “alta literatura”. E podemos afirmar que ao longo das publicações, a literatura policial foi perdendo a pecha de ser só entretenimento. Seu histórico está aí para provar.


Se pensarmos em crimes na literatura, a Bíblia nos mostra que a vida na terra, fora do Paraíso, começa com Caim matando Abel. No caso, não foi necessário o detetive. Deus tudo via, não precisou de nenhum truque de detetive para apontar o assassino.


Desde o registro deste primeiro crime, foram necessários muitos séculos de História e Civilização para se criar O DETETIVE. O primeiro homem genial, capaz de detectar as marcas deixadas por um criminoso foi o detetive Auguste Dupin, criação de Edgar Allan Poe. Na árvore genealógica da literatura policial, Allan Poe é o tronco principal. Quando publicou “Os Crimes da Rua Morgue”, e em seguida “O Mistério de Marie Roger” e “A Carta Roubada”, teve início uma das mais fantásticas fórmulas literárias de todos os tempos (crime, investigação e solução), que vem se repetindo até nossos dias com estrondoso sucesso. Como parte da fórmula, foi engendrado O DETETIVE, uma máquina de pensar, que a partir de vestígios, pistas e indícios, consegue, através da dedução lógica rigorosa, reconstruir toda a história da criatura que praticou o crime.


Para engendrar essa figura, Allan Poe teve de incorporar muito bem o espírito da época em que viveu. Em meados do século XVIII, quando o detetive Auguste Dupin estava sendo elaborado, a revolução industrial, com seus motores movidos a vapor e suas locomotivas, trazia mudanças bastante significativas ao mundo civilizado. Uma delas foi o surgimento das grandes cidades. Com a consequente concentração de população, apareceu a ideia de anonimato, situação propícia ao crime. O criminoso, que já não era um elemento conhecido em sua comunidade, mas um anônimo, acreditava poder cometer o delito e facilmente se perder na multidão. Por outro lado, o aparecimento desse homem que praticava delitos, fez com que a polícia começasse a se organizar de forma sistemática.


O romance policial com seu detetive precisou de mais alguns truques.


Quando Poe engendrou “Os Crimes da Rua Morgue”, era a época do positivismo, corrente filosófica criada por Augusto Comte que  considerava como único conhecimento legítimo o que se encontrava nas ciências naturais, baseado na observação, experimentação e utilização de conceitos matemáticos. Era a época em que Charles Darwin, baseado na observação da natureza, estava formulando o seu livro “A Origem das Espécies”. E foi baseado na observação que, aos poucos, percebeu-se que mesmo no anonimato da cidade grande, o criminoso deixava marcas. Ninguém se deslocava sem deixar traços.



 Muitos foram os folhetins publicados na imprensa da época que falavam de violência e crimes. No entanto, foi Edgar Allan Poe quem criou um homem genial, capaz de observar cientificamente cada um dos traços deixados pelo criminoso, e que através deles, vai ser capaz de chegar ao assassino.



Esse homem genial, segundo Chandler, teve também uma pitada de influência do romance de cavaria do final do período medieval. O romance de cavalaria era feito de um enredo cheio de suspense e violência, e tinha como propósito o modelo cristão em que os cavaleiros do bem, que em geral saíam em busca do santo Graal, após muitas e variadas peripécias, vencessem o mal. Chandler, num ensaio, fala do detetive como um cavaleiro errante pelas ruas de Los Angeles, a cidade grande. Acredito que o romance policial traz também dos romances de cavalaria a sua carga mítica: a grande luta do bem contra o mal que termina por apontar o criminoso, resgatando assim o mundo do caos.


Como vimos, foram necessários séculos de História e Civilização e uma conjunção de revolução industrial, literatura gótica, romances de cavalaria, filosofia positivista, para que Allan Poe juntasse tudo isso numa coqueteleira, chacoalhasse bem e produzisse O DETETIVE. Esse homem genial traz a cada um dos leitores o prazer de enveredar num cotidiano repleto de minúcias, onde o raciocínio lógico deságua num final feliz e, diferente do que vemos acontecer na realidade dos dias de hoje, o bem sempre vence o mal, proporcionando aos leitores a mesma satisfação do mundo mágico dos contos de fadas.



Quarenta anos após o aparecimento dos contos de Poe, surgiu Sherlock Holmes, que aperfeiçoou a técnica. E até hoje, é o que é. Daí para a frente o romance policial seguiu uma carreira interessantíssima, que é sobre o que vamos falar na nossa mesa no Porto Alegre Noir.  


A partir de 1920, na Europa, existiu a era de ouro do romance policial que inclui as damas do crime, a rainha, Agatha Christie, e diversos escritores. Foi um tempo em que o cadáver aparecia num determinado local, de preferência fechado, e o detetive cerebral ia encontrando pistas até descobrir quem matou. Uma verdadeira equação matemática.


Do lado de cá do Atlântico, em 29, surgiu o detetive durão, o “hard boiled”, que saiu às ruas, usava automóvel, além do cérebro, usava os punhos. Ao lado dele, já não eram as damas da aristocracia que circulavam, mas a mulher fatal, interesseira.


Sam Spade, criação de Dashiell Hammett  e Philip Marlowe criado por Raimond Chandler foram pioneiros no gênero do “hard-boiled”, o detetive durão.


A literatura policial se espalhou. Nero Wolf com suas orquídeas e seu fantástico cozinheiro, o interessantíssimo Comissário Maigret, e muitos mais. O cinema percebeu que era a fórmula perfeita para captar os espectadores. Hitchcock e outros cineastas, levaram boas tramas policiais para filmes e séries.


Quando já não se lavava a roupa suja em casa, ou mesmo em confessionários e passou-se a usar a corte para resolver as quizilas familiares, surgiu o detetive advogado. Acompanhando as guerras na Europa, surgiu o detetive espião. Um ótimo exemplo é James Bond.  Com o desenvolvimento da tecnologia vieram os cientistas. A doutora Kay Scarpeta, criação de Patrícia Cornwel, que inspirou a série CSA.


 No momento, temos a febre nórdica que se espalhou pelo mundo depois da trilogia Milenium. Adoro a personagem Lisbeth Salander e acredito que ela merece um estudo a parte.


No Brasil, temos muitos escritores que estão se dedicando a literatura policial, inclusive eu, com meu detetive Alyrio Cobra.


E não se pode deixar de mencionar a iniciativa da editora Akashic Books, que publicou nos Estados Unidos uma série de contos noir cujo estrondoso sucesso se espalhou por diversas cidades do mundo e chegou até o Brasil. Já temos dois volumes. Rio Noir e São Paulo Noir. Nestas antologias o grande personagem é a cidade grande onde o detetive atua decifrando os enigmas da cidade, explorando os aspectos sociais, as forças ocultas e as fragilidades humanas que compõe o dia a dia de grandes cidades.


A literatura policial, sempre menosprezada pela crítica, teve sua grande virada quando Umberto Ecco escreveu o Nome da Rosa. Ele usou a fórmula (crime, no caso serial killer, investigação e solução) para expor toda a sua erudição.


Acompanhando a evolução social e tecnológica, escritores vêm criando detetives com novas artimanhas, novas formas de investigar. Hoje temos representantes em quase todos os países do mundo. E esta literatura retrata a sociedade local. E é dela que eu, Eduarda de Carli e André Zanki Cordenonsi vamos falar. Para quem gosta de literatura policial, prometo trazer nas próximas crônicas, um pouco do Porto Alegre Noir.


MIL VISUALIZAÇÕES


O release de Royal Destiny, publicado pelo Digestivo Cultural, ultrapassou 1000 (mil) visualizações. Um fato a ser comemorado! 
Acesse o release clicando na imagem.



Royal Destiny é uma investigação do detetive Alyrio Cobra. Prestes a embarcar em uma viagem para Veneza, ele recebe uma ligação: o pedido desesperado de um médico. Dr. Marcelo deseja saber de uma vez por todas o que aconteceu com sua esposa, também médica, Dra. Leilah, que entrou em depressão após tentativa de socorro a um paciente na periferia de São Paulo. Enquanto atendia o idoso, Leilah viu um bebê engatinhando em sua direção, segurando algo nas mãos. Ela logo identificou o que a criança carragava: um osso humano! É o que a leva a uma profunda depressão.

Fascinado por História, especialmente a época da ditadura militar e presos políticos, George, vizinho de escritório e muito amigo de Alyrio, encanta-se pelo caso. Alyrio Cobra tem poucos dias para averiguar o que de fato ocorreu com a médica e de quem é o osso que a criança carregava. Seria de alguém enterrado durante a ditadura militar em um cemitério clandestino?

Alyrio vai a Veneza e embarca no fantástico navio Royal Destiny num cruzeiro pelo mar Adriático. Antes de embarcar vê uma mulher jogar um embrulho no mar. Curioso, logo no primeiro dia de viagem, encontra Clarice e ela confessa-lhe que havia jogado no mar a faca com que degolara um homem.

Numa viagem de férias, Alyrio Cobra acaba fazendo o que mais gosta de fazer. Acompanha George pelo Skype investigando se havia um cemitério clandestino naquela área da cidade, e tenta descobrir se Clarice, de fato, degolou um homem. Navegando pelo Adriático, entre amores e cidades interessantes, Alyrio Cobra vive duas investigações.

Royal Destiny pode ser comprado no link:

O HOMEM GENIAL



Na última crônica, falamos sobre a fantástica fórmula literária: crime, investigação e solução. Como a invenção da roda, que nos dias de hoje ninguém se pergunta como alguém teve essa ideia, também com o romance policial acontece o mesmo. No entanto para criar esse homem que é uma máquina de pensar, Poe teve de incorporar muito bem a sua época.

Quando ele engendrou “Os Crimes da Rua Morgue”, era a época do positivismo. Comte criava a sociologia, uma ciência fundada na análise de fenômenos diretamente observáveis. No positivismo, considerava-se como único conhecimento legítimo o que se encontrava nas ciências naturais, baseado na observação, experimentação e utilização de conceitos matemáticos. Acreditava-se que a ciência deveria basear-se na evidência (que fornece idéias claras e distintas) e na dedução que as encadeia (técnica que o primeiro detetive vai usar). Era a época em que Charles Darwin, baseado na observação da natureza, estava formulando o seu livro “A Origem das Espécies”.

E foi baseado na observação que, aos poucos, percebeu-se que mesmo no anonimato da cidade grande, o criminoso deixava marcas. Ninguém se deslocava sem deixar traços. Muitos foram os folhetins publicados na imprensa da época que falavam de violência e crimes. No entanto, foi Edgar Allan Poe quem criou um homem genial, capaz de observar cientificamente cada um dos traços deixados pelo criminoso, e que através deles, vai ser capaz de detectar o assassino.

Esse homem genial também teve uma pitada de influência do romance de cavaria do final do período medieval. O romance de cavalaria era feito de um enredo cheio de suspense e violência, e que tinha como propósito o modelo cristão em que os cavaleiros do bem, que em geral saíam em busca do santo Graal, após muitas e variadas peripécias, vencessem o mal. Chandler, num ensaio, fala do detetive como um cavaleiro errante pelas ruas de Los Angeles, a cidade grande. Acredito que o romance policial traz também dos romances de cavalaria a sua carga mítica: a grande luta do bem contra o mal que termina por apontar o criminoso, resgatando assim o mundo do caos.

O fato é que apesar de boa parte dos críticos considerarem a literatura policial como um gênero menor, ela é um dos gêneros mais lidos no mundo. Seu público é eclético e variado: adolescentes e idosos, profissionais liberais, intelectuais, professores universitários, pesquisadores, homens e mulheres, aposentados, etc. Ainda não existem estudos definitivos para explicar o porquê desse gosto do leitor. Talvez a explicação seja que o uso da fórmula (crime, investigação e solução) na construção literária traga em si uma grande carga mítica. Ela passa a funcionar como um arquétipo, pois satisfaz as exigências do bem vencer o mal. Existe também um grande desafio intelectual entre o leitor e o detetive. O leitor segue o raciocínio lógico e, junto com o detetive tenta desvendar o crime. Quando finalmente o detetive captura ou simplesmente aponta o criminoso, há uma sensação de que o mundo foi resgatado do caos, que a ordem foi restabelecida.

Como vimos, foram necessários séculos de História e Civilização e uma conjunção de revolução industrial, literatura gótica, romances de cavalaria e filosofia positivista para que Allan Poe juntasse tudo isso numa coqueteleira, chacoalhasse bem e produzisse o detetive. Esse homem genial traz a cada um dos leitores o prazer de enveredar num cotidiano repleto de minúcias, onde o raciocínio lógico deságua num final feliz e, diferentemente do que vemos acontecer na realidade dos dias de hoje, o bem sempre vence o mal, proporcionando aos leitores a mesma satisfação do mundo mágico dos contos de fadas! Com tudo isso é fácil se tornar uma “addicted”!

Se você gostou, acompanhe a coluna. Quarenta anos depois, Sir Arthur Conan Doyle usou a fórmula com maestria! Um estudo em vermelho! Até lá!

COMEÇANDO PELO FINAL FELIZ


                                   Começando pelo Final Feliz



Em 2004, 2005 publiquei uma série de crônicas falando um pouco do histórico do romance policial no blog da editora KBRdigital, que então começou a publicar as investigações do detetive Alyrio Cobra. Agora publico-as mais uma vez no blog do detetive Alyrio Cobra.

                          Quando aprendi a ler, minha primeira leitura foi Reinações de Narizinho de Monteiro Lobato, livro que tenho até hoje. Na seqüência, devo ter lido livros infantís, mas o real prazer da leitura veio com os livros protagonizados por Dr. Watson e Sherlock Holmes. Era delicioso me deixar levar pelo encantamento de Dr. Watson diante da fantástica capacidade de pensar de Sherlock Holmes, além de poder conhecer detalhes interessantes da Londres da rainha Vitória. O tempo foi passando e eu me tornando uma “addicted” da literatura policial, dos enigmas bem montados. Verdadeiras equações matemáticas!
Como em todos os gêneros, no policial também há livros ótimos, maus, bons e regulares. Há também os que a gente gosta ou não, independente do que diz a crítica. É preciso ir lendo e formando uma biblioteca dos que valem uma releitura. Nas “crises de abstinência”, é importantíssimo ter algo de boa qualidade bem à mão.
                      A literatura policial não trabalha com grandes questões filosóficas, mas com a vida no seu dia a dia, e a morte como parte da vida. A característica marcante dos detetives é a capacidade de observação de minúcias despercebidas aos olhos das pessoas comuns. É através dessas pequenas pistas perdidas no cotidiano que o detetive chega ao criminoso e aponta o culpado, fazendo com que o bem vença o mal. Ou seja, que o livro tenha um final feliz. Da mesma forma que nos romances de amor o mocinho tem de acabar casando com a mocinha, no romance policial o leitor precisa saber quem matou. E, de alguma forma, perceber que houve uma punição. Coisa que não acontece na vida real, especialmente na nossa política. Na ficção, o leitor de romances policiais exige um final feliz!
                      Quando criei o detetive Alyrio Cobra, busquei a origem desse gênero literário. Se pensarmos em crime, podemos afirmar que é um dos enredos usados desde sempre tanto na vida real como na literatura. No Gênesis e nas tragédias gregas encontramos muitos crimes. Segundo a Bíblia, a vida na terra, fora do Paraíso, começa com Caim matando Abel! Ou seja, com um crime! No caso, não foi necessário um detetive. Deus tudo via, não precisou de nenhuma artimanha para apontar o assassino.
                      Desde o registro deste primeiro crime, foram necessários muitos séculos de História e Civilização para se criar o primeiro detetive. E o primeiro homem genial, capaz de detectar as marcas deixadas por um criminoso foi o detetive Auguste Dupin, criação de Edgar Allan Poe. Na árvore genealógica da literatura policial, Allan Poe é o tronco principal, o grande precursor. Quando publicou “Os Crimes da Rua Morgue”, e em seguida “O Mistério de Marie Roger” e “A Carta Roubada”, teve início uma das mais fantásticas fórmulas literárias de todos os tempos (crime, investigação e solução), que vem se repetindo até nossos dias com estrondoso sucesso.
O detetive é uma máquina de pensar, que a partir de vestígios, pistas e indícios, consegue, através de uma dedução lógica rigorosa, reconstruir toda a história da criatura que praticou o crime. Para engendrar essa figura, Allan Poe teve de incorporar muito bem o espírito da época em que viveu.
Vamos dar uma olhada por lá! Em meados do século XVIII, quando o detetive Auguste Dupin estava sendo elaborado, a revolução industrial, com seus motores movidos a vapor e suas locomotivas, trazia mudanças bastante significativas ao mundo civilizado. Uma delas foi o surgimento das grandes cidades. Também foi uma época em que os ricos ficaram mais ricos; e nas cidades se juntavam os pobres que ficavam mais pobres. Surgia a miséria. Na literatura, o gênero era o gótico que se alimentava do cenário arquitetônico das cidades, especialmente os becos sujos povoados de pessoas miseráveis vivendo de restos de lixo. O gótico alimentava-se também do sobrenatural nos monastérios e igrejas, com sua arquitetura fantástica que incitava aparições. Era nessa atmosfera que se ambientavam histórias de horror, de crimes misteriosos, onde muitas vezes intervinham forças misteriosas. Foi a partir desses cenários que se criaram a novela de terror, a de ficção científica e o policial.
Com o surgimento das grandes cidades e da consequente concentração de população, apareceu a ideia de anonimato, situação muito propícia ao crime. O criminoso, que já não era um elemento conhecido em sua comunidade, mas um anônimo. Acreditava poder cometer o delito e facilmente se perder na multidão. Por outro lado, o aparecimento desse homem que praticava delitos, fez com que a polícia começasse a se organizar de forma sistemática.
O romance policial com seu detetive precisou de mais alguns truques. Por estar escrevendo uma crônica, não vou me alongar. Se você ficou curioso, leia na próxima crônica a continuação.

                                                 Vera Carvalho Assumpção

FIM DE SEMANA DE TERROR E MISTÉRIO


Vera gosta de aventuras, não só as que eu vivo e conto e ela escreve. Também gosta de viver ela mesma as aventuras. Entre 17 e 19 de novembro esteve no Solar do Vinhedo, em São Roque, com um grupo que a impressionou muito. Vivenciaram juntos um final de semana de terror e mistério. Vi as fotos. O local é fantástico. E apropriado para o evento. Segundo ela me contou, uma noite ela não conseguiu ir sozinha ao seu chalé. Sem ninguém que também fosse para aqueles lados, no escuro, com a bateria do celular nas últimas, sem possibilidades de iluminar o caminho, ela olhou a névoa garoenta, as árvores escuras e se apavorou. Resolveu ficar na casa grande até ter alguém com quem enfrentar o caminho. É bom dizer que lá celulares e internet não funcionam!

O grupo era grande, 15 pessoas. Todas envolvidas com terror e mistério (na literatura). Ela passou boa parte do tempo ouvindo as histórias de Ilana Casoy, o maior nome de literatura criminal no Brasil. Até aqui, Vera só tem escrito as minhas investigações, mas ela retornou tão impressionada com Ilana que acabei ficando um pouco enciumado. Espero que tenham ficado amigas e que quando eu precisar de ajuda nas minhas investigações, Ilana possa me dar umas dicas. Mas Vera jamais escreverá outras investigações que não as minhas.

Este encontro foi organizado pela Cassia Carrenho, e estiveram lá ótimos escritores como Santiago Nazarian, Raphael Montes e a Ilana Casoy. Esteve lá também Mariana Rolier, editora da Harper Collins. Ela tem as dicas do que é bom ou não para as editoras.

Bem, estou no meio de uma investigação complicada e não tenho muito tempo para escrever. Quando sair desta, Vera com certeza escreverá mais um livro.